E o Boca do Céu 2014 acabou. Será?

Já faz alguns dias que acabou. Mas ainda reluto em estar lá. Queria viver em um mundo que nos desse a possibilidade de brincar todos os dias, em que as pessoas não apenas ouvissem, mas que escutassem. Nesse tempo fora do tempo, nesse lugar tão distante chamado Boca do Céu é o que se faz todos os dias, para todo o sempre.

Mas acabou. Não cruzarei mais portas com mandalas de flores para ser recepcionada pelo tambor, pelas danças e pela energia de Leandro Medina e seu Corpopular. Mas o que me conforta é que as cores, as sabenças, as alegrias, os choros e toda a emoção compartilhada nesse tempo permanecerão vivas em mim e em todos que levaram sua presença e seu coração aberto para a troca.

Entre sorrisos acolhedores e abraços reconfortantes encontrei e reencontrei pessoas especiais. Quis guardar muitas delas num potinho e levar para casa. Como Jihad e seu coração do tamanho do mundo, que nos levou para o tempo de Sherazade. Michel e sua serenidade vestida de longos cabelos brancos, que me conduziu por minha própria imaginação e me possibilitou chegar onde jamais imaginaria ser capaz. Mafane, vinda de uma ilha tão distante, começou a contar histórias por estar com saudades e me deixou com saudade de uma floresta luxuriosa que só conheci através de suas palavras. Elvia e sua Mona, que conta e canta bailando. Todas as crianças que narraram, cantaram. Elas foram para mim a prova de que a tradição é viva e sempre será, porque há pessoas dispostas a manter essa pulsação, como Lucilene Silva, Regina Alfaia e Vivian Munhoz.

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As sabenças ali compartilhadas estou certa de que foram como sementes, que vão brotar nos cantos mais distantes desse país e continuar o ciclo de manter viva essa tradição, que passa de boca em boca e nos conta quem somos e o que podemos vir a ser. Dona Cici fez correr em mim um rio que não sabia existir. O axé daquela tarde me deu forças para fazer coisas que há muito achava não ser capaz. Serei eternamente grata por esse despertar.

Dentro desse potinho que vou guardar comigo não poderiam faltar minhas companheiras de trabalho: a Cris Ceschi e a Camila Tardelli. Cris foi quem me falou primeiro sobre cuidar da comunicação do Boca do Céu. Fiquei tão honrada e feliz que me faltam palavras. Camila foi um grande presente que recebemos! Toda sua disposição e sensibilidade renderam ótimo material para o Twitter e o Instagram. Seguimos como as três mosqueteiras! Além dessas duas queridas, estarão no potinho também a equipe de coordenação e produção: Fabi, Vivi, Fernanda, Ligia, Julia, Josias, Flávia, Leo, Alex. E também o Nicolas, colega de profissão que veio lá de Paris cobrir o encontro. Apesar do meu portunhol, conseguimos nos comunicar!

E ocupando um lugar especial nesse potinho está a Regina Machado, que foi quem primeiro sonhou esse encontro que agora segue coletivamente sonhado. Ela fala sobre a aventura humana de buscar conhecimento por meio da Arte da Palavra e, por meio de sua curadoria, possibilita nos aventurar em oficinas, tardes de reflexão e noites de conto. Encontrei nas pessoas ao longo de sete dias essa sede de se aventurar e buscar saber mais, fazer melhor, se entregar de forma completa.

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Enfim, tomando as palavras do Raul (e me desculpem se parece clichê):

Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade

Hoje vejo o Boca do Céu como um sonho que se sonha junto por muitas pessoas. Sinto-me muito orgulhosa de ter dado uma pequena contribuição para que mais pessoas soubessem desse sonho coletivo e pudessem vir sonhar conosco. E me sinto ainda mais orgulhosa de ter vivido o Boca do Céu, da forma mais intensa que pude, misturando trabalho e alumbramento.

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Vida longa a esse sonho!

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