Lili Flor e o Mar de Histórias

Quem a conhece já viu o brilho nos olhos que chega a cada nova história. Essa moça faceira é determinada. Daquelas que colocam ordem no barraco, sem perder a ternura. Ela me apresentou ao universo das histórias, ao abrir, ao lado do Giba Pedroza, as portas do “Castelo Hans Christian Andersen”.

Lili Flor é minha fada madrinha. E como toda fada, está sempre pronta a dar socorro, tirar dúvidas e mostrar um encanto aqui, outro acolá, para compor esse universo mágico e encantador dos narradores de história. Ela conta histórias no Grupo Girassonhos com muita alegria e contos incríveis e tem ensinado muita gente a pescar no mundo das histórias no Curso de Formação de Contadores de Histórias da Biblioteca Hans Christian Andersen. Para acompanhar a agenda e ver dicas bacanas, acesse o Portal das Histórias. Seu depoimento ao Quantos Contos é cheio de referências e inspiração.

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“As histórias sempre estiveram na minha vida, através da figura de minha avó materna, a dona Maria, que nos contava causos de “Lubisoni”, que era o tal lobisomem para ela! Meu pai que só contava história engraçada e anedotas e minhas tias contavam as peripécias nas casas das patroas e no Carnaval. Mas o que resgatou em mim as histórias e me abriu para a possibilidade de sair contando por aí foi “Os Quatro Ventos da História”, curso que fiz há muito tempo com Stela Barbieri, Andi Rubinstein, Urga Maira e Madalena Monteiro.

Depois desse resgate, as histórias começaram a mexer demais comigo. Um dia, num fim de tarde, estava na Livraria Casa de Livros, um lugar encantado, fazendo uma oficina com a Stela Barbieri. Ela sentou num banquinho, ficou bem próxima dos ouvintes e disse: “Sente-se aqui meu caro amigo, que vou lhe contar a história de Iazul, Iazul, Iazul”. Outra vez parecia que ia voar. A Bia Bedran, uma narradora do Rio que eu adoro, estava contando na Flipinha. Eu senti uma emoção tão grande que comecei a chorar sem parar. Vi tanta sinceridade, tanta entrega no que ela fazia que a história me arrebatou. Era uma história simples de um menino que queria voar de foguete. Mas eu voei, viu?

E o meu nascimento como contadora de histórias foi em um Projeto de Mediação de Leitura que eu participava. Contei o romance de Salman Rushdie “Haroun e o Mar de Histórias” em capítulos. As cerca de 200 páginas renderam dias e dias de histórias com o olhar atento das crianças. Eram elas, o silêncio e eu. Empolgada e detalhista que sou, pensei na entrada das crianças, elas atravessavam uma cortina, na música ambiente, no figurino, na acomodação. Para me preparar, li o livro muitas vezes. Um amigo do coração, Adriano Bouças, me ajudou com as divisões da história. Como virou uma novela, ia relendo e preparando a cada semana. Claro que deu frio na barriga e é importante que se tenha, as histórias nos suspendem, os encontros nos emocionam. Depois veio o primeiro repertório. Tive um encontro muito bonito com Vinicius Medrado, um multi-instrumentista que toca harpa paraguaia. Montamos um espetáculo narrativo teatral, com esquetes, brincadeiras e muita música. As histórias que faziam parte desse projeto eram Ananse na versão do Celso Cisto, O dragão Hang-Long, uma história que eu escrevi e a Lenda do Boi, porque não podia faltar brasilidade, né?

Foi a boniteza dos encontros com as pessoas, a possibilidade de plantar sonhos, de se doar, de encantar com as histórias que me fizeram trilhar esse caminho. Mas, principalmente, porque a histórias são um espaço de resistência e utopia frente a um tempo de distanciamento e individualidade”

9 pensamentos sobre “Lili Flor e o Mar de Histórias

    • Essa moça faceira, ora uma onça de andar lânguido, ora menina do fio, vai deixar saudade, né Milene França?

      A propósito, saudade de você também.

      Beijos

  1. Lindo e emocionante o depoimento da Lili. Ela transmite tanta sinceridade e emoção que até ao ler seu depoimento parece que é a Lili que esta esta falando ao vivo, com seu lindo sorriso sapeca, sua graça, sua paixão. Parabéns Lili!!!!

    • Concordo com você, Marcos!
      Ao ler a entrevista para publicar no blog, ela estava ali comigo, contando cada passo desse belo caminhar que ela faz no mundo das histórias.

      🙂

  2. Pingback: Hadithi Njoo – I Festival de AfroContação de Histórias | Quantos contos vale um conto

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